Na última sexta-feira fui sacudido por uma epifania. Eu deveria revelar um filme preto e branco na manhã do dia seguinte. Eu tinha todas as peças do quebra-cabeça, faltava somente o revelador. Logo liguei para uma amigo que já processa filmes nestas mesmas condições há uns 2 anos e ele ficou de me disponibilizar o bagulho na manhã seguinte.
Clicar um filme inteiro em 12 horas
Bem, eu (pensava que) tinha tudo, mas o meu filme pb ainda estava virgem! Teria de queimar aquele filme durante o resto da sexta e o começo do sábado. E vamos clicar no trabalho, no intervalo do almoço, no retorno para casa.
Chegou o sábado. Ainda tinha um restinho de filme, e resolvi ver o sol das 6 horas da manhã cair sobre a cidade. Caminhei pelas imediações do meu bairro e finalizei o filme. Até aconteceu uma merdinha: achei q o filme era de 36, mas quando fui bater a foto 25 tiver de cair na real. Acabara o filme, justa na hora que ia fazer uma bela foto. A foto ficou só aqui na cabeça. As vezes acontece, né?!
O revelador de meu amigo deu xabu
Agora era só esperar o revelador de meu amigo. Mas eu estava esquecendo de algo. Talvez a ansiedade da espera do revelador me fez esquecer que eu precisaria preparar o fixador, o qual era em forma de pó. Para fazer isso eu precisaria de todo jeito de garrafas, termômetro e tais. Resolvi ligar para meu amigo em busca do prometido revelador. Liguei às 9, às 10, às 10h30… 11 horas desisti pois ele não atendeu o fone nenhuma vez. Foi quando recebi um torpedo dele dizendo que o revelador não estava em mãos mas poderia conseguir logo mais… Nesse momento eu já havia ligado o plano B.
Peguei informação com um outro amigo. Ele me indicou onde estava comprando os químicos da faculdade em que ensina fotografia. Eu sabia onde ficava a tal loja. No sábado o comércio fecha cedo, então corri logo para a lá. Comprei o revelador em pó, Kodak D-76 e em seguida segui para o centrão em busca das garrafas ambar e termômetro. Minha intuição indicava em quel loja procurar. Comprei então as garrafas âmbar, vi numa prateleira água destilada e resolvi checar na web do celular se eu deveria usar àgua de torneira ou destilada. Descobri recomendações do uso de água destilada e resolvi obedecer aos gurus dos foruns da net. Comprei o suficiente para preparar 2 galões. Seria um galão para o revelador e outro para o fixador. Comprei também um funil e o termômetro. Cheguei em casa, de volta, às 14 horas. Estava finalmente com tudo em mãos!
Preparação dos perigosos químicos
Eu sabia que para usar o revelador é recomendável aguardar o produto “descansar” algumas horas após o preparo. Decidi que o resto do sábado deveria ser dedicado para o preparo dos produtos e a revelação mesmo só ocorreria no domingo… dia das mães!
A fotografia analógica é fascinante, mas jamais devemos nos esquecer que os produtos químicos necessários para fazer a mágica acontecer são perigosíssimos. A caveira na embalagem da Kodak entrega tudo. Portanto, normas e cuidados devem ser obedecidos. Inicialmente eu iria preparar o material no escritório onde trabalho. O prédio tem uma zona morta para serviços internos que é ideal. Mas o desencadear dos acontecimentos estavam me levando para o apartamento da minha família. Eu teria de ter ainda mais cuidado pois estava perto de alimentos e de objetos de uso de todos.
Na noite do sábado escolhi uma área reservada do condomínio, onde não costuma ter uso frequente e – devidamente munido de luvas e máscara – processei os químicos acondicionando-os em garrafas previamente rotuladas. Estava enfim com todo o material em mãos. Na verdade muito mais material do que eu iria usar na dia seguinte. A vantagem de ter nosso próprios materiais, ao invés de pedir emprestado, é este estoque que ficamos para trabalhar e errar e aprender à vontade.
O dia da revelação
Domingo Dia das Mães não combina muito com alguém manuseando produtos tóxicos em casa. Então aguardei o anoitecer daquele dia para enfim entrar em ação. O banheiro de empregada foi QG. Levei as poções de revelador, stop, fixador e banho final para o banheiro onde tudo aconteceu. Instalei uma mangueira na pia da área de serviço para o demorado banho final, aquele que deixamos a mangueira injetando um “fio” de água por dentro do carretel de aço durante uns 10 minutos. Há certo desperdício de água nesta hora, mas é o que pede o processo.
Retirei o filme do espiral e estendi diante da luz. Chegara enfim a hora de ver se todo aquele processo havia trazido bons resultador ou seria apenas uma experiência a não se repetir.
Sim. Haviam imagens gravadas naquela película, e não eram poucos imagens. O filme estava cheio… de ponta a ponta. 24 frames, para ser exato. A experiência havia sido um sucesso. Chamei todos de casa para ver e vibrar comigo!
Para tirar a prova dos nove eu precisaria ter o filme seco no dia seguinte para poder escanear. E foi que eu fiz. Pendurei o filme estirado, lá mesmo no banheiro e fui dormir.
Acordei cedinho na segunda-feira e levei o filme para o escritório onde escaneei e pude enfim multiplicar o resultado positivo da jornada.
Sou fascinado pela fotografia há muito tempo. E sempre fui muito envolvido pelo processo de concepção da imagem. Sou hávido por imagens, meus olhos brilham diante delas, seja quem for o autor, mas confesso que participar da criação e percorrer todo o processo que transforma a emoção particular do momento da foto até algo que pode ser compartilhado com seus amigos e com todos é algo muito maior. É tão bom e dá vontade de repetir e repetir e repetir.
Espero que esta minha narrativa sirva para encorajar outros a fazer o mesmo. Vamos fotografar mais e mais sobretudo de forma analógica. É fascinante e rico o processo que transforma luz em processo químico devolvendo em forma de luz aos nosso olhos.
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Olá amigo.
Sem querer me meter, mas mude para o caffenol que você vai poupar muita dor de cabeça…
Não tem essa estória de “produto perigoso” além do que, o componente mais difícil é vendido em lojas de piscina e até mesmo no supermercado Angeloni.
Além do que… é muito mais legal….. hehehehe.
Opa, Silas,
Está em meus planos fazer o Caffenol em breve.
Fale mais sobre sua experiência!
Amigo, também sou de recife. vc poderia me dizer onde posso comprar os materias para revelação? Tentei procurar na net, mas não achei nada interessante. A propósito… muito bom seu depoimento.
Olá, Afonso.
Comprei os químicos Kodak na loja Escambo, fica na Av. Suassuna.
Como é que seu filme de 24 poses tem os fotogramas 29A, 30, 30A?
Oi, Joel. Filme rebobinado tem dessas coisas! :)
Melhor do que os Foma que tenho aqui em casa que não têm numeração NENHUMA! :-(